Entrevista com Ruiva dos Gaviões da Fiel

 
 



Hoje no bancada em foco é dia de conhecer um pouco da historia da Paula mais conhecida como Ruiva, ela pertence a torcida dos Gaviões da Fiel, Ruiva frequenta a bancada desde os 4 anos de idade porém com 16 anos foi a primeira vez sozinha em um estádio. Ruiva que é da Zona Oeste de Sampa porém cola com os Gaviões da Vila Zilda, zona norte da capital. Uma associada antiga que vive o LHP como se é de viver.


Conta um pouco de onde surgiu esse amor pelo Corinthians? 

- Então, eu nunca tive em casa uma influência corinthiana, o meu pai vivia a torcida de um time rival, então a logística de torcida eu presenciava mas era muito pequena pra entender. Sempre simpatizei com o Corinthians, com a raça, o sentimento único de se sentir corinthiano foi algo que havia dentro de mim e consegui com o tempo descobrir. Fiz faculdade de história e dentro do curso eu tive uma matéria sobre torcidas organizadas e os impactos sociais, daí me apaixonei de fato pelo gaviões e entendi o contexto da existência da entidade
Então no final uma coisa ligou a outra. 

Aproveitando o momento que tu entrou no assunto dos gaviões, a Influencia da faculdade ajudou na escolha da torcida? quais aspectos você trouxe como padrão?
A ideologia, a participação da entidade em movimentações políticas que no momento me representava e que eu achava coerente, fora que os gaviões foi fundado em 1969, ano então da ditadura militar. Os gaviões sempre foi um símbolo de resistência, dentro e fora do âmbito futebol, isso me cativou a seguir a ideologia e me associar. Tem uma frase muito bacana que representa a minha ideia de gaviões dita por Chico malfitani  um dos fundadores dos gaviões 
" Nós nascemos para combater um ditador ”
Pra mim, os gaviões representa a resistência, do preto, do operário, do pobre, de todo um contexto social que deixa em alguns momentos de ser representado Dentro e fora do futebol, é muito mais do que torcida organizada, pra mim é história, poesia, luta, resistência. 

E quando você entrou, o que mais te chamou atenção lá dentro? era isso que você imaginava?
Antes de me associar comecei a frequentar a quadra e fiz isso por 2 anos pra confirmar a certeza que eu tinha em me associar e pra conhecer o cotidiano.
Os gaviões seguem muito presentes nos movimentos sociais e isso eu percebi assim que entrei, não é somente nós livros, a luta é real!! Foi a primeira coisa que notei quando entrei.
O legal na reunião de sócios que inclusive recomendo e acho extremamente necessária a participação de forma breve a história dos gaviões foi contada, isso me chamou a atenção, a priori achei que as reuniões eram para ser dadas as regras de convivência mas não,  é passado todo um contexto, me lembro como se fosse hoje, na minha reunião foi mencionado a participação da mulher na torcida e mencionado o nome de mulheres que fizerem história na torcida ao longo da história. 

E hoje em dia, o que dos Gaviões você consegue trazer para sua vida longe da bancada?
-  O LHP, a lealdade com a família, comigo mesma, a humildade em reconhecer que precisamos das pessoas e o procedimento com o que é correto, a postura como mulher, como mãe, e como filha.
O LHP se vive! 

Você tem filha?
- Sim, tenho uma filha, que quando estava na minha barriga pulava e cantava comigo na arquibancada.
Sou mãe e pai dela.

Pode falar sobre? o fator de mãe e pai.
- É pesado né, uma responsabilidade dobrada, minha filha só tem o meu nome no registro infelizmente sou mais uma da estatística de mulheres mães solo.
Não me envergonho disso, ao contrário eu digo com o maior orgulho de que dou o meu melhor e crio ela pra se tornar uma mulher forte, independente e dona de suas escolhas.

Hoje em dia tudo é gera polemica, muitas vezes as pessoas não sabem o que passamos para está em uma bancada, a luta que é e tudo mais, e você como mãe solo, já sofreu algum tipo de preconceito por ser mãe solo e frequentar uma bancada, e também levando em conta o que as pessoas acham que é uma torcida organizada ?
- As pessoas tem uma mentalidade de que quando se torna mãe a vida acaba.
Claro que a postura precisa mudar, minha vida é ela, dela e pra ela, trabalho, dou o melhor pra ela, cuido com afeto, amor e carinho, mas a ruiva não morreu, sou mãe, mas sou mulher, tenho meus sonhos, meus objetivos, minhas particularidades. 
Quando se associa ser mulher, mãe em torcida organizada cria se um imaginário de falta de cuidado com a criança, mas não, no começo pra eu me readaptar a vida foi muito difícil, sofri com as perguntas sobre o genitor, porque não tem registro dele, com quem deixo a minha filha pra estar frequentando jogos.
No começo me magoava, mas a gente renasce das cinzas hoje eu não ligo.

E hoje em dia, como se sente com esse aumento da bancada feminina e cada vez mais os tabus caindo?
- Os tabus existem, mas hoje nós mulheres somos mais fortes, nos posicionamos, nos defendemos.
A luta da mulher em qualquer cenário é uma constância, estamos e vamos ocupar todos os cenários, pode demorar mas vamos !!

E cada vez a a gente ver que a NQA está cada vez mais elitizada, somos de origens operarias, e estamos nas mãos de empresas que muitas vezes não pensa nos torcedores e sim no investimentos deles, o que tu acha que deveria mudar para realmente fazermos jus ao titulo de "time do povo"
- Existe uma palavra que eu gosto muito de usar "perestroika" essa palavra é russa e significa reestruturação.
É necessário uma reestruturação, em todos os setores, diretoria, elenco, tudo, e isso tem que ser cobrado por nós, que contribuímos, que faça chuva, sol, com o sem dinheiro estamos lá apoiando.

E quando se trata de Corinthians, qual é o movimento alvinegro que te chama mais atenção, pode ser relacionado a torcida também.
- Acho dahora, porém Pouco falado, mais válido, os autistas alvinegro, o movimento e a inclusão eu acho digna de reconhecimento.
O Cássio até deu uma moral, mas o marketing do clube é bem fraco infelizmente.

E quem é a Ruiva fora da bancada?
- A ruiva fora da bancada é a Paula, a mãe que se desdobra pro dia render as 24 horas, a mulher que se precisar pelos dela da a vida, a mulher de coração bom pra ajudar, mas pra pedir ajuda é um pouco difícil, a mulher amiga, leal e sincera, a mina que troca ideia de futebol com a rapaziada da vila, a corinthiana da família e a menina sonhadora.

E com suas experiencias que passou nos relacionamentos, existe algum empecilho hoje para você se relacionar com alguém?
- O empecilho seria não entender o meu estilo de vida, não gosto de balada, de role, quando eu saio é pra ver o Corinthians, pra estar comigo precisa caminhar comigo, respeitar a minha liberdade como mulher que se posiciona.
É o mínimo né, rival não tem nem ideia, não julgo as escolhas de vida de ninguém, mas não consigo me relacionar com alguém que não seja Corinthians de alma, isso é o básico. Já sofro por 11 correndo atrás de uma bola kkkk tá ótimo. 

Aproveitando que estamos falando de relacionamento, a gente ver em você uma pessoa inteligente esforçada, e com diversas qualidades, hoje em dia o que uma pessoa faz para te chamar atenção?
- A vontade do saber, pessoas que tem sede de aprender, me cativa.
Pessoas com sonhos me cativa, pessoas com inteligente demais a ponto de reconhecer a própria ignorância me cativa, a pessoa humilde me cativa, me atrai mais o diálogo do que a casca. 

E mano, o por que o curso de história?
-
 Kkkk parada louca demais, antes de entrar na faculdade eu fiz um curso de elétrica então a expectativa da família era de que eu seguisse e fizesse engenharia, mais sempre fui a mina dos livros, tenho o hábito de ler desde os 14 anos hoje tenho 27.
Tive um professor na oitava série que me despertou o senso crítico, lembro que as aulas dele eram de sexta feira e eu estudava a noite, muitas vezes na aula dele só entrava eu e mais um mano realmente eu gostava de aprender.
Isso me deu o gatilho então me joguei rs

E hoje em dia quais o ensinamentos literários  que você trás para sua filha?
- Leio poesia pra minha filha, ela tem os livrinhos dela, eu não forço nada com ela, mas mantenho ela num ambiente em que ela tenha acesso a livros, e torne isso um hábito.

Sabendo da historia do Corinthians, quando o Cuca foi anunciado qual foi o sentimento?
- Irresponsabilidade da diretoria, no período em que o Vitor Pereira estava no empasse de renovar ou não a diretoria já devia ter começado a procurar por outro nome, mas por falta de planejamento ficou tudo pelas coxas e por falta de opção acabou sobrando pro cuca, qual já havia até sido mencionado antes como opção de técnico mas por medo da polêmica a diretoria descartou.

E mano, isso afetou até o feminino, que se o que tu achou da posição das mina? 
O cenário geral já é machista né, o futebol feminino no Brasil não tem a valorização que merece, o piso salarial das minas que todos os anos ganham títulos é ridículo, então de certa forma, alguns posicionamento podem sim ter criado esse distanciamento, ainda mais sabendo que o elenco fechava com ele.

E sobre a bancada, o que tua acha que falta para ter uma bancada forte como temos na masculina?
Como eu disse acima, o futebol feminino no Brasil não é valorizado, então em relação a bancada e o público no geral é uma parada cultural. Talvez falte, disposição até de nós associadas estarmos lá, na disposição de fazer a festa como fazemos junto com a rapaziada. 

Mano, e com é para você essa adaptação ao futebol moderno?
O futebol moderno é um meio do estado, e da polícia controlar a massa que somos nós.
É aquela frase né "se adaptar sem perder a essência"

A festa de antes não é a mesma de hoje em dia, como se adaptar a isso?
- Utilizando dos recursos que hoje nos temos e sermos criativos e fazer com amor. 

Já passou por algum perrengue indo em alguma caravana? ou até mesmo em algum jogo
Já pow, do clássico caso de pedrada no buso, ao perrengue de estar grávida de 8 meses e ter que correr pra não apanhar da polícia no pós jogo kkk 
Sair de casa sem ver os jogos do dia e pegar a linha com os inimigos rs
Doideira pura kk

Hoje estamos vendo em vários estados espalhados pelo BR, varias TO sendo punidas por poucas coisas, tu acha que o ministério publico faz pouco caso sobre as torcidas na hora de um julgamento?
- Sem dúvidas, o objetivo desses caras de fato é o fim das torcidas organizadas, e tem muita diretoria por aí que assina embaixo pra gourmetizar os estádios. 

Não só eles né? a mídia em geral, essa semana tivemos diversos confrontos na Europa que se diz referencia e primeiro mundo porém não vi repercussão, não vi os chamando de marginal, nem algo do tipo como acontece por aqui, acha que se a mídia realmente fosse convivente e mostrasse os dois lados das TO, teríamos uma cultura diferente?
- Não, o estigma da torcida organizada é a marginalização, podemos fazer 1910 ações sociais que infelizmente essa cultura não muda.  Triste dizer isso, mas é real. 

E 2024 te preocupa? Referente a reformulação do elenco eleições e tudo mais?
- 2024 é o ano da perestroika, possivelmente não vamos competir nada, então é o ano de se reestruturar, mudar elenco, mudar táticas, logísticas, diretoria (se Deus quiser) rs, então 2024 é o ano que temos pra nos organizar e voltarmos a ser o todo poderoso timão em campo
Cair mesmo, acredito que o Corinthians não cai.


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