Entrevista com Lara da Camisa 12
Hoje, a entrevistada do quadro Minas da Arquibancada é Lara Estéfani de apenas 20 anos. Nascida e reside em Franca, interior de São Paulo, apenas 400km da capital. Tornou-se sócia da Camisa 12 assim que completou a maior idade, e assim começou a frequentar jogos e caravanas. Filha única mulher, em meio a 3 irmãos homens, hoje em dia o pai estranha quando ela não vai nos jogos. Ela conta para a gente como é fazer parte de uma torcida organizada, conta como é estar em uma caravana e as amizades que conquistou no caminho.
- O amor pelo Corinthians sem dúvidas, como qualquer um diz, vem de berço! A gente nasce. Aquela tradicional família corinthiana. Porém, o que me encantou mesmo foi ver o meu irmão, que assim fanático como eu, me despertou esse sentimento tão puro e sincero.
Lembro que eu era bem pequena, via ele sempre com as emoções intensas, de tristeza ou de muito felicidade. E eu comecei a reparar, a acompanhar, e daí em diante partilhamos todos os sentimentos e eu pude entender o porquê tanta intensidade, e não foi à toa que escolhi que era aquilo que eu queria para mim.
Não imagino minha vida sem o Corinthians. É literalmente “a vida me fez Corinthians e eu fiz do Corinthians a minha vida”.
Hoje em dia para você como é conciliar sua vida pessoal e jogos do Corinthians?
- Todo jogo que eu consigo colar, eu vou. Não desperdiço e nem perco a chance e a oportunidade. Como eu sempre falo para as pessoas ao meu redor, não há dinheiro no mundo que pague a felicidade em ir ver o Timão. Então, sempre que surge uma oportunidade eu agarro.
É um pouco complicado no quesito financeiro e na distância. Sair do interior para ir para a Capital, não é algo que a gente pode decidir no mesmo dia, infelizmente. Então a questão é sempre se posso ou se consigo. E querendo ou não, rola uma parada de prioridade no momento. Envolve tanto pessoal, quanto profissional, mas a gente sempre dá aquele jeitinho corinthiano.
Conta um pouco para nós, como é as caravanas até São Paulo?
- É história atrás de história. Posso contar diversas experiências, que não conseguiria passar para você, nem um pouco de como realmente são! A caravana se faz praticamente uns 70%/80% na viagem, em relação ao jogo, porque é aonde a gente mais permanece. Aonde mais criamos laços, partilhamos dos mesmos sentimentos sejam psicológicos ou físicos, e dividimos tudo - seja ideia, comida, bebida, e o que for preciso. A viagem é longa e cansativa, mas sempre vale a pena.
Se o jogo for mais a tarde/noite, eu só chego, tomo um banho e vou trabalhar, principalmente os que são em dia de semana. E no caminho do trampo, já vou pensando em quando vai ser o próximo, e refletindo que se tivesse no dia seguinte, iria novamente.
Quem é a Lara, na sua vida pessoal?
- Poderia me descrever como uma pessoa muito intensa, literalmente! Se eu sinto, eu sinto muito, mas se eu não sinto, não sinto absolutamente NADA.
Sou uma pessoa muito família, tanto que tenho ela como a base de tudo.
De tempos para cá procuro ser uma pessoa com um maior alto-astral e positividade, trabalho muito isso em mim para não deixar nenhuma negatividade ao meu redor, às vezes falho, mas sempre levanto e volto melhor!
Me considero uma pessoa muito amiga, às vezes ausente, mas se você me procurar, você saberá onde me encontrar e sempre estará ciente que atenderei na mesma hora. Lealdade e fechamento para mim é tudo - se você for 10/10 comigo, eu serei 20/20 com você. Além de intensa prezo muito pela reciprocidade.
Tenho sonhos, desejos, planos, e muitas conquistas que almejo. Trabalho desde os meus 15 anos, e vou continuar sempre batalhando por aquilo que quero e acredito. Assim que terminei o ensino médio, não ingressei na faculdade, e ainda hoje, tenho muitas dúvidas do que cursar, mas logo vocês verão a mãe com diploma, se Deus quiser! Hahahahah
O que você acha que falta para as organizadas serem bem vistas pela sociedade? Visando que elas fazem vários projetos sociais tops, ajuda várias famílias e tudo mais.
- No meu ponto de vista, falta mais as pessoas quererem realmente ver, do que nós, mostrar.
Infelizmente a ignorância é aliada do preconceito, e querendo ou não há um estigma muito grande com as pessoas associarem torcedores organizados à criminosos, só que sempre generalizam, e esse é b.o! Em qualquer lugar tem gente do bem e tem gente ruim. Em QUALQUER profissão, tem gente do bem e tem gente ruim. Em QUALQUER área tem os dois, qualquer empresa, qualquer lugar. E não é em entidades com milhares e milhões de pessoas distintas, que seria diferente. Acho que a mídia, principalmente, deveria mostrar todos os projetos sociais, a história, o que fazem, o quanto se unem em prol de um bem maior.
Mostrar a realidade do pai de família que fica responsa de tudo. De uma mãe que abre mão de tantas coisas para estar ali na entidade ajudando no que pode. De um filho que segue os passos de alguém que deixou um legado. De um moleque que se espelha na maior referência da sua quebrada. De uma mina, que tem em mente o desejo de fazer a diferença, e pode inspirar outras a fazer o mesmo. Mostrar a ideologia. Mas, sempre optam por aquilo que dá notícia, e que todo mundo fica curioso para ver.
É fácil opinar naquilo que não se vive.
O por que a Camisa 12?
- Simplesmente identificação e desejo de querer estar ali, fazer parte e agregar!
O primeiro jogo que pude ir com meu irmão, com a Camisa 12, sempre será inesquecível para mim. Que FESTA! Que energia! Bancada surreal. Diferenciados, posso dizer.
Depois que busquei conhecer, que pude conhecer a ideologia, me mostraram como é, e pelos laços que criei, me associei assim que pude (quando fiquei maior de idade).
A 12 me encantou, e para mim, ela estará sempre acima.
Hoje em dia, as mulheres estão cada vez mais presentes em estádios, o que tu acha que ainda falta para melhorar o publico feminino?
- Mais união e acolhimento entre nós e o compartilhamento de experiências.
Creio que muitas ainda não frequentam por receio ou medo. Mas as mulheres precisam entender que seus lugares também são ali, fazendo o que ama. Apoiando, incentivando e torcendo como qualquer outra pessoa. Ali não somos nem mais, e nem menos, estamos em prol de uma única essência que nos move, então estamos lado a lado, e não a frente de alguém.
Quais estádio você já conheceu? e dentre eles, na sua opinião qual foi o melhor e o pior para assistir?
Não tive muitas oportunidades de conhecer outros estádios fora de Minas, mas que Deus não me permita deixar partir antes de rodar esse Brasil e o mundo à fora.
Deixando fora de Copinha, de BH, que já fui algumas vezes, o Mineirão é melhor que o Arena Independência. A estrutura do Arena Independência é meio (?), hahahahahah.
Conta um pouco do seu ciclo de amizades em relação a jogos e torcida?
- Cara, foi uma das melhores coisas que a 12 e o Corinthians me proporcionou. Assim que me associei, conheci a Eduarda e a Milena, que hoje, são meus amuletos da sorte! Invictas em jogos juntas na Arena. Elas como exemplo, são amizades que não tem lugar para limitar. São para a vida. E elas sabem que podem contar comigo para o que der e vier, seja em quesito de torcida, de Corinthians, ou não. A Karlinha e a Fer são de um projeto em que eu fiz parte, mas como sempre digo, são presentes que o Corinthians me trouxe!
Tenho grandes amizades tanto aqui na subsede, quanto no interior e na capital. Cada um tem um lugar especial no meu coração, e estamos sempre juntos. Sabem que podem contar. As minas e os manos do interior, do fundão 016, as e os da capital que sempre me recepcionaram, tenho um carinho muito grande, o laço fica mais forte por podermos compartilhar os mesmos ideais, e defender um ao outro. Tem várias pessoas que eu não tenho aquela “amizade”, mas tenho uma grande admiração.
Só gratidão, por todas as pessoas que conheci e pude conhecer - vivos em nossas memórias - através da 12 e do Corinthians.
Hoje em dia, sabemos que o assédio infelizmente ainda reina entre nós, para você, como é esse assunto? Já passou por algo ou presenciou algo que possa comentar?
- Infelizmente é algo que não deveria nem existir, e para mim é inadmissível.
Nunca passei e nem presenciei, pois quem me conhece sabe que por mim, isso não passa batido. Seja comigo, com uma conhecida ou com alguém que não conheço, não fico calada, e não é em um lugar onde há um número maior de homens, que eu ficaria, muito pelo contrário.
Presencio o respeito mútuo que há na entidade.
Qual foi o jogo mais marcante da sua vida?
- Todos os jogos, para mim, são bem marcantes pelo simples fato de poder presenciar.
Que eu pude assistir no estádio, em relação ao placar e alívio de chegar a chorar, creio que um dos mais marcantes que posso mencionar, foi o 4x1 em cima do atlético go nas quartas de final da Copa do Brasil, no ano passado. No jogo de ida levamos 2x0, na volta, em Itaquera, Yuri Alberto desencantou e fez hat-trick, além do gol do Gil, que com o placar, garantimos a classificação. QUE JOGO! Deu gosto! Sei nem como voltamos para casa.
Contra o fluminense na estreia do bandeirão esse ano, foi marcante demais.
A caravana do interior no ano passado, indo para o Mineirão sem a porta da van, também foi marcante demais!
Praticamente todos - histórias, placar, tem muito a envolver, e cada um se torna único.
Você que já das antigas, como é essa adaptação ao futebol moderno?
- Complicado! O futebol não é um “produto” para ser consumido. E os valores gastos diante as economias, são surreais. Mercantilizou muito o que era para ser paixão, emoção.
Saudade do futebol que era por amor à camisa, e não pela ganância!
E no rip do futebol raiz, infelizmente, o que sempre foi zoeira para nós, hoje se torna pautas, como por exemplo, a zoação entre nós e o os rivais. Época boa que nesse meio ninguém se ofendia, sabia zoar e ser zoado.
Os atletas precisam ser valorizados sim, mas os clubes precisam também valorizar nós torcedores.
Em dias de jogos, como é sua preparação? tem alguma superstição?
- que Tenho algumas manias, de como por exemplo, usar um terço especial. Tanto em casa para assistir, quanto para levar no estádio.
O pior é que, a hora do dia não passa quando tem jogo, incrível! No trampo, a cabeça fica pensando no jogo. E parece que demora uma eternidade para chegar.
Todo jogo é importante, mas aqueles que são decisivos parecem ainda mais não chegar nunca! E é incrível que quando chegam, vem minha ansiedade estampada na minha cara, com ataques na minha pele! Corinthians mexe com o psicológico e afeta meu físico muito facilmente. Ps: colabora comigo, por favor!
Lembra da sua primeira caravana? Qual foi a sensação?
- Perfeitamente, como se fosse ontem! E de companhia, minha madrinha. Ainda era proibido artigos/camisetas relacionadas às organizadas. Estava na norte, mas não havia ido com a 12.
A emoção é indescritível, todas as vezes que coloco o pé na arena, até hoje.
Lembro que um senhor me abraçou e perguntou “primeira vez?”, então, já está ligado como estava minha situação, né? Derretida…
Eu tinha 14 anos, vi o nosso gringo da favela chutar a bola para fora do estádio e o Corinthians perder do atlético go por 1x0. Tenho certeza que os 4x1 que citei anteriormente foi vingança! Hahahahahah
Hoje em dia, qual é seu maior sonho pessoal e profissional?
- Sem dúvidas o maior sonho pessoal é ter uma boa estabilidade. Aquele famoso clichê de que não é sobre “ficar rico”, é sobre viver bem, comer bem, pagar as contas em dia viajar e viver em paz”. Mas acima de tudo, ser rica de tudo aquilo que o dinheiro não compra. O viver bem, é o que prezo, e espero um dia poder dar o melhor para os meus.
Obviamente que um dos meus maiores sonhos é seguir o Coringão por onde for - em QUALQUER lugar, e entendo que tudo tem seu tempo também.
Profissionalmente, ainda tenho muitas dúvidas do que seguir, então eu poderia falar “meu sonho é esse”, hoje, e amanhã, mudar de ideia. Mas, tenho em mente em não parar de estudar, e o que eu fizer, farei com amor, para que, com muita benção, me torne sucedida.
Qual foi sua maior loucura que fez, pelo Corinthians?
- As maiores eu diria que são coisas pessoais, como promessas, por exemplo.
Mas, já fui em caravana sem avisar alguém da minha família (mãe/pai), já avisei quando estava chegando lá, KKKK, já fui sendo a única mulher na caravana - tenho uma tatuagem na frente e atrás da canela com o ano e as inicias, entre outros.
As grandes loucuras a gente faz todos os dias, amando, apoiando e não abandonando, acima de qualquer jogo, ou resultado.
Troco por nada nesse mundo!
O que acha de uma possível expansão da NQA? Será que bateremos a capacidade máxima?
- Sendo benéfico para quitar as dívidas da Arena, e preservar o que já é bom, ótimo! Mas se envolver chapa do Andrés para embolsar as rendas, negativo!
E sem dúvidas, bateríamos a capacidade máxima.
Para fecharmos esse bate papo, qual conselho você daria para uma mulher que quer começar a frequentar um estádio, e como escolher sua torcida? Quais os critérios que você acha essencial para essa escolha?
- Vá sem medo! Tenha a conduta de escolher de acordo com seus ideais e suas ideias, procure saber a história, ideologia, marcos, projetos, e se você está de acordo que ali você tem direitos e deveres. A partir da sua escolha, você estará carregando o nome da sua entidade por onde for, então, a proteja sempre. Sua conduta, seu respeito, sua responsabilidade e sua postura vale muito.
Você vai acompanhar seu amor por onde for, vai criar amizades e laços que levará para a vida toda.
Também vai aprender muito com experiências tanto boas, quanto ruins.
Esteja ciente que você não será ‘só’ mais uma e esteja preparada de que tudo é possível, e que sempre valerá a pena!
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